Queirós Figeiras

bandeira da nacionalidade do bolseiro Angola

Sou o padre Queirós Figeiras, nasci em Kibala, na Província do Quanza Sul, em Angola, em 1978, mas em 1983, por causa da guerra civil, tivemos que nos mudar para os arredores de Luanda, onde cresci, sendo o segundo de sete filhos.

Apesar das guerras e das perseguições, os sacerdotes e os missionários permanecem

O compositor angolano Waldemar Bastos, criado em Portugal, tornou famosa a canção “Velha Chica”, cantada pela Dulce Pontes, cuja letra diz: “Antigamente a velha Chica vendia cola e gengibre/ E lá pela tarde ela lavava a roupa do patrão importante/ E nós os miúdos lá da escola perguntávamos à vovó Chica/ Qual era a razão daquela pobreza, daquele nosso sofrimento/ Xé menino, não fala política/ Mas a velha Chica, embrulhada nos pensamentos/ Ela sabia, mas não dizia a razão daquele sofrimento”. É uma canção que canta o sofrimento de um povo inocente e as perguntas das crianças face à guerra. Eu fui um desses meninos. Em Luanda frequentei a catequese e conheci a minha vocação, entrando para o seminário em 1998; um ano depois tive que interromper para ir para a tropa, mas graças à oposição da minha família e à intervenção de Deus não fui para a guerra e pude voltar ao seminário.
Num mundo globalizado como o nosso, a única instituição que fica ao lado das pessoas quando o estado falha, a economia falha, a saúde falha, é a Igreja. Apesar das guerras e das perseguições, os sacerdotes e os missionários permanecem naqueles lugares e entre aqueles que mais padecem da injustiça. Desde a minha ordenação até 2019, fui pároco numa das paróquias mais povoadas, de Viana, uma das três dioceses de Luanda: a paróquia de São Paulo. Aqui pude ver como é grande a missão à qual Deus me chamava. A guerra matou meio milhão de pessoas e desalojou um milhão, fez mais de 3.000 crianças soldados e 5.000 meninas concubinas de soldados, mas eu anseio com aquilo que cantava a Velha Chica. A canção ainda diz: “E o tempo passou e a Velha Chica, só mais velha ficou/ Ela somente fez uma kubata com teto de zinco/Mas quem vê o rosto daquela senhora, só vê rugas do sofrimento/ E ela agora só diz: Xé menino, quando morrer, quero ver Angola em paz”. Estudo na Universidade Pontifícia da Santa Cruz e gostava de contribuir para essa paz.