Chamo-me Théogene Ndagijimana, venho do Ruanda e estudo Direito Canónico. Nasci a 11 de julho de 1988, no seio de uma família católica. O meu pai morreu quando eu tinha nove anos e a minha mãe esperava o quarto filho. Eu sou o mais velho. Apesar das dificuldades, a minha mãe deu-nos tudo e foi, tal como o meu pai, a nossa primeira educadora na fé. Vivíamos entre muitas denominações cristãs e a minha mãe ia-nos ensinando as orações e aquilo que carateriza a nossa fé católica em comparação com as outras confissões.
Toquei o amor de Deus quando vi a nossa igreja reconstruída
Também ajudaram-me as pessoas da família alargada da minha mãe; infelizmente, todas elas foram massacradas durante o genocídio. Por exemplo, lembro-me de que, antes de fazer três anos, quando ia visitar o meu tio materno, ele acordava-me muito cedo para irmos juntos à Missa num dia de semana. Não tenho nenhuma dúvida de que a educação que recebi na minha família é a raiz principal da minha vocação sacerdotal.
Após fazer a Primeira Comunhão, comecei a ajudar à Missa como acólito e a observar os sacerdotes da nossa paróquia que faziam tudo o que era possível para trazer a esperança à nossa comunidade ferida pelo genocídio de 1994.
Ao ver como eles se entregavam, quando alguns tinham ficado órfãos e tinham presenciado a morte dos seus seres mais queridos de uma forma tão atroz, eu perguntava como também podia contribuir para esta obra de Deus. Isto começou a acontecer-me em 1999, quando estava no 5º ano. Nessa altura, preparava-me para o Crisma e já estávamos há 5 anos sem igreja para celebrar. Celebrava-se no campo ou num pequeno salão. Havia uma igreja, mas dentro dela tinham sido massacradas muitas pessoas que se tinham refugiado lá, e pensavam convertê-la num memorial das vítimas. Depois, graças a Deus, foi renovada e reabilitada.
Toquei o amor de Deus quando vi a nossa igreja reconstruída e também quando, depois da morte do meu pai, umas pessoas ajudaram a minha mãe a pagar os nossos estudos. Ao ver as feridas da nossa sociedade e as obras de caridade que se faziam, o meu coração impeliu-me a testemunhar o amor de Deus para o seu povo: não podia ficar sem fazer nada. Ingressei no seminário menor, onde tive suficiente tempo para meditar sobre a minha vocação. Depois escrevi uma carta ao bispo a solicitar o meu ingresso no seminário maior.
Ruanda é um dos países mais pequenos de África, mas é conhecido pela dolorosa história do genocídio. A sociedade está muito ferida, mas, pela graça de Deus, pouco a pouco vai-se avançando na reconciliação. Na minha diocese, por exemplo, foram mortos 32 sacerdotes, além de muitos fiéis, e isso criou muitos problemas de insegurança, de emigração, e económicos. E a Igreja está ensinar a perdoar: aquilo que as autoridades sonharam ao princípio, fomos nós quem o fizemos e continuamos a fazer, unindo os sobreviventes do genocídio com os genocidas, fazendo-os sentar e falar sobre o futuro do país.
Por isso quero agradecer aos benfeitores que nos ajudam tanto e também pedir-lhes que rezem por mim, para que eu possa ser fiel e e servir o Senhor nesta tarefa dificil da reconciliação do meu país.
O meu coração impeliu-me a testemunhar o amor de Deus para o seu povo: não podia ficar sem fazer nada.