
Chamo-me Arjan Dodaj e nasci em 1977, em Laç-Kurbin, na Albânia. Laç é uma cidade conhecida sobretudo por um santuário dedicado a Santo António. A minha escola ficava junto ao caminho por onde eu via subir muitas pessoas que iam pedir a intercessão do santo. O país declarava-se ateu pela constituição. O meu pai trabalhava numa fábrica e a minha mãe nas obras. Eu tinha duas irmãs. Ainda me lembro, quando tinha 12 anos, dos barcos que iam para a Itália, cheios de pessoas que se acumulavam nos porões e nas cobertas, aproveitando qualquer buraquinho disponível para escapar da pobreza. Era a primeira vez que a Itália experimentava o fenómeno das migrações massivas para o qual ainda não estava preparada, como a chegada de 20.000 albaneses a Bari a bordo do Vlora, no dia 8 de agosto de 1991.
Eu também escapei da minha pátria num barco e agora regressei como bispo de Tirana.
Tentei escapar a primeira vez num barco que, graças a Deus, não partiu porque tinha uma avaria. Não queria nada para mim: impelia-me o desejo de manter a minha família, os meus pais e as minhas irmãs. Finalmente consegui-o na noite de 15 para 16 de setembro de 1993, com 16 anos. Eu conhecia a Itália pelo que via na televisão italiana e parti com outras 40 pessoas que, tal como eu, tinham pagado 1,6 milhões de liras (aproximadamente €850) para fazer a travessia. Eu tive que contrair uma dívida. Lembro-me muito bem daquela noite: o céu estrelado e o mar calmo; à medida que nos afastávamos da costa, via como se apagavam as luzes da minha terra e senti que um bocado do meu coração se estava a desprender lentamente.
Chegámos a Carovigno (Puglia); pegaram em nós e colocaram-nos numa casa em ruínas no meio de um olival e, no dia seguinte, de manhã, fomos de comboio para Bari e, depois, para Turim. Tive alguns amigos albaneses que me ajudaram. De Turim fui para Milão. Ia a pé para qualquer sítio onde visse uma grua para pedir para me aceitarem nas obras, onde visse um restaurante para poder lavar loiça, mas infelizmente não era fácil. Finalmente, encontrei acolhimento em Cuneo, e comecei a trabalhar como soldador.
Em Cuneo, e logo nesse ano, conheci a Fraternidade dos Filhos da Cruz e também a fé cristã. Soube então o extraordinário acontecimento de Medjugorje. Dentro do contexto do ateísmo de onde eu vinha, primeiro o simples facto de saber que Deus existia e que a Virgem tinha aparecido e depois o ter experiência disso, foi para mim o início de uma vida completamente nova. Depois de um ano recebi o Batismo e nesse momento nasceu e fez-se cada vez mais claro em mim o desejo de me consagrar totalmente ao Senhor na vida sacerdotal.
Em 1997 comecei os meus estudos de filosofia e teologia na Universidade Pontifícia da Santa Cruz, graças a uma bolsa. Fui ordenado em 2003 por João Paulo II e agora sou bispo de Tirana-Durres, mas, para mim, sinceramente, ser bispo não é um ponto de chegada: é um chamamento a uma maior vigilância, a um serviço maior, a uma resposta cada vez mais humilde.
Uma peculiaridade da nossa Igreja é que é antiga e nova ao mesmo tempo. Antiga, porque o primeiro bispo de Durres foi o mártir São Cesário, um dos 72 discípulos do Senhor. E o próprio São Paulo diz: “Em todas as direções, partindo de Jerusalém e chegando até à Ilíria, completei o anúncio do Evangelho de Cristo” (Rm 15,19). Nova, porque depois de cinco séculos de ocupação otomana e cinquenta anos de dramáticas torturas, perseguições e aniquilamentos às mãos do comunismo, a mensagem que recebe é nova. E a par de muitos adultos que se preparam para o batismo, há uma boa relação de cooperação com a Igreja Ortodoxa e com o Islão.
Estou muito agradecido ao Senhor por todas estas realidades que, como a Universidade Pontifícia da Santa Cruz, surgem desse trabalho profético que São Josemaria soube dar à Igreja através da Prelatura do Opus Dei. Muito obrigado!