Thiago dos Santos

bandeira da nacionalidade do bolseiro Brasil

Chamo-me Thiago Santana dos Santos, sou de Aracaju, no Brasil, onde nasci em 1995, no seio de uma família piedosa. Os meus pais transmitiram-me os valores cristãos da melhor maneira que conseguiram. A minha mãe e as minhas duas irmãs mais velhas levavam-nos à Missa todos os domingos e lembro-me de rezarmos o terço antes de jantar, cada um com as suas contas na mão, tendo acendido uma vela diante da imagem da Virgem, em roda da qual nos sentávamos. A minha fé era simples e não sei quanto é que rezava realmente, porque me punha a brincar com o terço e só parava porque o meu pai me chamava a atenção. Mas por simples que fosse, eu tinha alguma fé.

Quando cheguei à adolescência, comecei a pôr em causa o ir à Missa, mais por preguiça do que por dúvidas do seu significado, e deixei de ir, contra os desejos da minha mãe que continuava a insistir comigo. Nessa altura só a minha mãe continuava a rezar o terço. Aos vinte anos, de católico só tinha o nome, um tímido afeto por Jesus e outro mais forte por Maria. Tinha recebido os Sacramentos, mas não tinha vida de oração. Até essa idade só me tinha confessado duas vezes: antes da Primeira Comunhão e antes de receber a Confirmação. Os estudos corriam bem e tirei Gestão numa universidade pública ao mesmo tempo que trabalhava duramente, com dedicação e honradez. Trabalhava de manhã e ia às aulas à tarde, chegando a casa já entrada a noite.

Ele nunca se esqueceu de mim

Foi então que comecei a interrogar-me: percebia que o sentido da vida não se podia reduzir ao trabalho e aos prazeres que o mundo nos oferece, mas, por outro lado, também perguntava se Deus existia realmente ou se era só uma construção humana. Sei que sou filho de uma geração com pouca educação para refletir e pouca formação cristã, mas o meu coração pedia muito mais do que os prazeres, embora eu quisesse ser feliz sem Deus, sem compreender qual a sua vontade para mim. Afastei-me dele, embora Ele nunca se tenha afastado de mim; esqueci-me dele, mas Ele nunca se esqueceu de mim.

A minha irmã mais velha teve o seu primeiro filho, motivo de grande alegria para toda a família. Uns meses depois sentiu dores fortes e os médicos pensaram que fosse um cálculo renal, mas ao operar verificaram que havia uma coloração diferente no fígado e, depois de uma biópsia, perceberam que havia um cancro com metástases.

Isto deu-me a volta à cabeça: a minha fé reavivou-se porque era a única solução para a minha irmã. A minha irmã, porém, morreu com vinte e sete anos e um bebé de poucos meses, mas nos cinco meses que duraram os seus tratamentos e internamento, ela abriu-se ao amor de Deus e à devoção de Maria Santíssima. Voltou a rezar o terço todos os dias, meditava no Evangelho e falava de Jesus a todos os que a iam visitar; procurava estar alegre, sobretudo quando lhe levavam o seu filho. Um dia a tristeza parecia que se tinha apoderado do seu coração: não tinha forças para lutar e a minha mãe tomou a sua Bíblia e leu-lhe o Evangelho daquele dia. Depois de uns minutos em silêncio, a minha irmã levantou a cabeça e disse: “A partir de agora vou ser feliz”. No dia seguinte foi encontrar-se com Deus.

O meu coração pedia muito mais do que os prazeres, mas eu queria ser feliz sem Deus

No fim da Missa de primeiro mês pela sua alma, convidaram-me a ir a um encontro de jovens na paróquia. Eu era muito contrário a essas coisas e estava convencido a não ficar muito tempo, mas decidi ir. Aquela reunião, no entanto, mudou-me e comecei a ir a todas as reuniões que se organizavam aos sábados. Foi um processo lento e cheio de dificuldades: começar uma vida nova exige muitas renúncias, abandonar certos hábitos e pensamentos, perder algumas amizades. Dois anos depois conheci os Servos do Coração Imaculado de Maria. Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o hábito que vestiam e a alegria contagiosa que transmitiam. Nesse dia em que os conheci – era num torneio desportivo – no intervalo do almoço aproveitei para me confessar. Embora tivesse uma namorada e a relação com ela corresse bem, a forma de rezar, a devoção a Maria e ao Santo Rosário, a adoração da Eucaristia, a alegria por estar com Deus, apesar das dificuldades, e o espírito de família que se transmitia nesses religiosos, atraíam-me cada vez mais e eu já não podia pensar noutra coisa a não ser na entrega total a Deus. Mas tinha medo.

Então o meu diretor espiritual sugeriu-me uma peregrinação a Fátima. Aceitei contrariado, mas foi uma das experiências mais importantes da minha vida. Conheci a história das aparições, a vida dos Pastorinhos, a simplicidade e grandeza com que amavam a Jesus e Maria e se entregavam pela conversão dos pecadores. Quando voltei a casa estava decidido.

Passaram sete anos. Há três professei os votos e agora preparo-me para a profissão perpétua e para o sacerdócio. Cheguei a Itália em 2018 para começar a formação e discernimento e, nos primeiros anos, chamados de postulantado, estudei filosofia na Universidade Pontifícia da Santa Cruz e mais tarde teologia. Gostaria de partilhar com os benfeitores que, graças à vossa generosidade, eu e os meus irmãos pudemos ter acesso a um ensino de qualidade num ambiente são, o que é essencial para seguir o caminho traçado por Cristo e transmitido pela Igreja.

Agradeço o vosso “sim”: Deus chamou-vos a ser um canal da graça, colaborando no crescimento dos membros da Igreja. Que grande honra é ser escolhidos por Deus para esta nobre missão! Peço todos os dias por vocês, pedindo a Deus que vos recompense, pondo-vos sob o manto de Maria Santíssima, para que interceda sem cessar por vós e pelas vossas famílias.